Velhos são os outros

Achas que estou velha, pergunta a minha mãe com 90, olhando-se ao espelho. Respondo que não. Sei lá o que é isso. Não fosse o desconto do passe e da falta de paciência para com as discussões acaloradas, diria que não dei conta de termos envelhecido. Tu e eu, mãe.

A verdade é que velhos são os outros. Mas nós? Não, acho que não. Quando deixas de ouvir e pedes-me que repita até que eu grite impaciente para que me percebas, não é velhice. São as perdas naturais do avanço da idade, dizem os médicos.

A necessidade de momentos solitários, de silêncio e repouso segundo os entendidos é sabedoria porque os jovens não têm tempo e nós os maiores de idade, de uma forma contraditória, temos todo o tempo do mundo.

Velhice é ficares agarrada à tv desde que acordas. Ah não, quem faz isso são os alienados em qualquer idade.

Somos então o quê, mãe? Jovens de espírito, respondes a rir. Talvez tu, mais jovem do que eu que procuras no passado o teu presente.

Quantos planos tens para o futuro? Contento-me em pensar o que vou fazer para o teu almoço. Se respirar fosse fácil eu não me cansava. Nem tu, mãe.

De resto, tudo parece igual não fosse o destino diverso no tempo de cada um. Quem de nós parte antes?

Ethel Feldman

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